fazedoras
de Matoritori
Em 2024, Nelson Muelele, ainda estudante de antropologia, reencontrou Suely Messeder em um novo contexto: como assistente de campo na pesquisa sobre as fazedoras de Matoritori, coordenada por Suely e Sandra Manuel em Maputo. Esse projeto de pesquisa já havia sido inspirado por discussões anteriores que ocorreram em 2022, durante uma palestra de Suely na Universidade Eduardo Mondlane. Naquela ocasião, em diálogo com a antropóloga moçambicana Sonia Seuane, emergiram as similaridades entre o doce brasileiro conhecido como cocada e o matoritori moçambicano.
Uma questão central, levantada por um estudante na época, foi a comparação entre o contexto escravocrata em que a cocada foi produzida no Brasil e o contexto de produção do matoritori, em Moçambique, que não envolveu a escravidão. Essa discussão abriu espaço para reflexões mais profundas sobre as marcas deixadas pela colonialidade nas práticas culturais e sobre como os saberes locais podem ser subalternizados ou apropriados por diferentes forças de poder.
Em 2024, o projeto de pesquisa sobre as fazedoras de Matoritori ampliou essas reflexões ao conectar os saberes tradicionais ao digital, por meio da criação de uma galeria digital. Esse espaço virtual, que já fazia parte dos objetivos iniciais da pesquisa, foi pensado como um meio de promover a difusão e a valorização desses saberes locais, permitindo que práticas tradicionais fossem visibilizadas em um contexto global. Além de preservar as práticas culturais, a galeria oferecia uma plataforma crítica, na qual as questões levantadas em 2022, como as dinâmicas históricas da escravidão e as assimetrias de poder na produção do conhecimento, continuavam a ser debatidas.
A pesquisa buscava, portanto, transcender as fronteiras físicas e epistemológicas, propondo um diálogo entre Brasil e Moçambique que pudesse repensar as hierarquias de saberes, preservando e difundindo o conhecimento local sem sucumbir às pressões da globalização e da colonialidade. A articulação entre o saber fazer tradicional e o digital, concretizada na galeria, torna-se um símbolo dessa luta contínua por uma ciência e uma cultura que sejam mais inclusivas e equilibradas, respeitando as singularidades e as histórias locais.
galeria
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